O Rio, por Paulo Mendes da Rocha


Paulo Mendes da Rocha inaugura sexta a maior retrospectiva da sua obra, em Vitória, sua cidade natal. Em entrevista publicada hoje no jornal O Globo, ele assume uma postura crítica em relação à situação atual da arquitetura e do urbanismo no Rio e no Brasil:

"Em entrevistas recentes, o senhor se disse “desapontado” com o urbanismo atual no Brasil. Em relação ao Rio e às novas propostas urbanísticas por conta dos Jogos Olímpicos, como a revitalização da Zona Portuária, qual a sua opinião?

É sempre um elogio ao projeto original as formas de se reviver um determinado planejamento urbano. Dito isso, acho que falta atenção à vida doméstica. As revitalizações e obras não podem ser feitas para um espetáculo. Temos que ficar com um belo tesouro desse pretexto (as Olimpíadas) e não com um lixo imprevisto. O Rio tem uma tradição arquitetônica de Lucio Costa, Niemeyre, Affonso Eduardo Reidy... Não vamos agora entregar tudo de uma hora para outra como se fosse algo isolado.

Falando nessa tradição, como o senhor vê a cidade hoje em relação às novas construções e projetos?

Houve um período em branco, de fato, nos anos 1970, 80 e 90. Muita perseguição. Eu mesmo fui cassado pelo AI-5. Mas, hoje, não acho que faltem concursos. Eles são sempre discutíveis. Se há quem saiba julgar, há quem saiba fazer. O que está faltando é planejamento governamental e alianças entre público e privado. Grandes arquitetos deveriam estar sendo chamados pelo governo para fazer projetos para a cidade, como aconteceu com Lucio Costa, Niemeyer e Reidy. A questão urbanística é de caráter político. Só o governo pode promover grandes projetos. Brasília não foi iniciativa privada de ninguém, e aposto que atraiu muitos negócios privados. Não tem que ser uma disputa entre público e privado. Outra coisa importante é que precisamos nos libertar do automóvel. O automóvel é um desastre. E, se você persegue o mesmo modelo há anos, podemos dizer que estamos numa rota dos desastres. O sentido de transformação ainda é muito acanhado. Os projetos de metrô no Brasil são ridículos em relação aos de outros países. A arquitetura se reflete numa educação desde a infância. Não sei como um menino não tem aulas de urbanismo na escola. A cidade é tão importante quanto a língua."

fonte: blog POSTO 12  http://posto12.blogspot.com.br/